segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Casa na árvore



Desde pequena sempre sonhei com uma casa na árvore. Uma casinha bem rústica toda de madeira, onde eu pudesse “segredar” minhas fantasias. 

Uma casa que cantasse junto com o vento e que me aninhasse ao deitar, mirando o gemido das estrelas - brilhantes sobre toda aquela escuridão.

Uma casa que me escondesse do mundo e me flutuasse ao imaginário da MINHA “história sem fim”. Que agregasse um tantinho de cachorrinhos fofinhos e acolhesse os estribilhos dos pássaros na sua janela.

Cresci - não um tanto pra cima – e ainda não tinha a minha casa na árvore. Até este ano que, de fato, tem se revelado novo e/ou reinventado em muitos distintos e maravilhosos sentidos. 

Cresci (ou aumentei de “juízo”) e diante do novo e de todas as alterações inesperadas que se apresentavam à minha frente, surgiu a minha casa na árvore.

A minha casa na árvore, a real, não era tão rústica, mas coloria meus olhos, pintada de lilás e enfeitada com as suas abstrações. Tinha chuveiro elétrico, dois quartos – cada qual com sua TV, janela e varanda – e um varandão onde eu podia contemplar o gosto do verde que me rodeava.

A minha casa na árvore, a real, tinha uma janela no seu banheiro, de onde eu podia me banhar sob a vista das montanhas. De onde eu podia esticar os braços e apanhar uma manga ou mesmo, desavisadamente, escutar o mugido das vacas e o caminhar de alguns cavalos
.
A minha casa na árvore, a real, balançava a cada passo por seu interior. E talvez por isso mesmo, a minha casa na árvore, a real, me acalentava qual um berço a ritmar meu sonho de um sono gostoso, revigorante, profundo e inebriante em uma casa na árvore, a da fantasia.


Obs.: A casa na árvore, a real, está localizada na Fazenda Vaccaro - Rio de Contas - Bahia.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Gosto de viajar pela estrada. Em todos os seus sentidos.


À noite, então, fico apenas com o seu silêncio. Ou com o ruído das matas acariciadas pelo vento. Ou mesmo do carro (e seu motor) contra o vento – guerra incessante, esta.

De dentro do meu “tomatinho selvagem”, Belchior desponta com seus antigos devaneios. Não sei porquê, mas penso que a sua voz fanhosa, e nem por isso enfadonha, combina bem com a noite. Com a noite em movimento. Com a noite pacata, em movimento, dentro de um carro, no meio da estrada. Na solidão da estrada à noite, conduzida pelas estrelas que despontam extrovertidas sem a luminosidade das broxantes alógenas.

E como Belchior está para Elis na mesma intensidade que eu estou para as águas, é a irreverência dessa voz tão feminina que o sucede pela minha companhia.

A estrada e a sua escuridão, misturadas aos gritinhos “elisticos”, são um chamariz para um ritualístico devaneio. Como disse, a viagem em todos os seus sentidos.
Não compreendo mais a gramática e suas alterações sinonímicas. Causa-me estranheza a taxatividade dos rótulos e a certeza e convicção daqueles que as impõe.


Buscar a Gentileza virou sinônimo de Dependência; clamam pela Liberdade em nome daquilo que meus olhos confundem com a frieza de um Exacerbado Individualismo.

Compartilhar a vida e as experiências com ela trazidas agora é Carência. E o calor que arrebata o peito provocado pela busca deliciosa da Convivência, então? Desespero.

Amar virou conceito de Esconderijo. Sem pudor, então, Insanidade.

Já não entendo a Diferença dos hábitos, porquanto deslizar para outras ações e reações virou Frescura. Educação, inclusive, também é Frescura. Já Temor Reverencial é Respeito; e Ameaça e Constrangimento, Lapidação.

A Reflexão agora é o mergulho profundo e consistente na Melancolia. Que dirá dos Erros a que somos naturalmente e humanamente submetidos? Intolerância! Assim como a procura do Aprendizado, Impaciência.

A Felicidade atualmente é mensurada pela quantidade de “cliques” e exposições no Facebook. Ao passo que a preferência pela Contemplação da noite e de si mesmo, Solidão.

Comprometimento é Insegurança - ou mesmo Prisão. Permitir-se, Exposição. Sensibilidade, Tristeza; preferência pelo Silêncio, Consternação.

Diante de tanta confusão vernacular, o que significaria se eu lhes dissesse que hoje pesquei o Sol para beijar-lhe a face e umedecer-me no seu abraço? Que convidamos a Lua e dançamos com as estrelas, equilibrando-nos dependentemente na superfície de Júpiter?

Se eu lhes dissesse que cantamos tão envolventemente que o Mar subiu trovejando ao nosso encontro?

Se eu lhes dissesse que fizemo-nos prisioneiros uns dos outros, expondo-nos à insanidade, carenciando as experiências de uma vida solitária? E que a partir daí escondemo-nos uns aos outros? E que a partir de então me escondi permanentemente da vida?

Isso ainda é chamado de Loucura. Mas à minha Loucura eu atribuo o conceito de Realidade. E quão triste, consternante e fresca 1idade.
Ela não sabia afirmar quantas vezes se morre nesta vida, mas já podia dizer que são muitas. Estava na quarta, talvez quinta morte da sua existência e o que havia sobrado dessa vez eram pouquíssimos fragmentos da essência de um passado deveras imperfeito.


Ainda podia sentir o cheiro da terra úmida que outrora abrigou seu corpo junto às larvas e em companhia ao de tantas outras criaturas habitantes do subterrâneo. Mas agora o sol já cintilava sobre sua pele, reapresentado-lhe um pouco da vida, insinuando-lhe a presença do novo, que há muito conhecia.

Estava viva novamente. E novamente se pôs a prometer o diferente, as resoluções descumpridas do passado… Quantas mortes ainda teria que enfrentar até a concretude de sua verdadeira vocação? Não! No seu vocabulário o “fracasso” não era mais benquisto – ignorando ela, uma vez mais, que ele nada mais era do que a simples conseqüência do seu verdadeiro inimigo: o “medo”.

Já não podia mais haver espaço para o medo. Não por outro motivo que seu despertar foi de reconhecimento. De tudo o quanto no passado ficou, de tudo o quanto ainda deveria ser alcançado.

Levantou ainda trôpega, submersa nessas questões. Apanhou as roupas ao lado da cômoda, vestindo-as com certa dificuldade. O sol despontava pelas frestas da janela, acalorando a maciez do seu rosto, enchendo-lhe de ânimo. O vento soprava sorrateiro e indeciso, mas por momentos suficientes para conduzi-la ao mundo. A vida estava à sua espera.

A rua ainda se encontrava tímida no seu silêncio. Pouco a pouco as pessoas começavam a surgir e o ritmo frenético de qualquer grande capital despontava sobre seus ouvidos, cantando-lhe o cotidiano.

Adquirira uma consciência maior, mas continuava premente sua ânsia por se sentir encaixada dentro de qualquer contexto que lhe parecesse minimamente aprazível. Mas apesar de tantas mortes, conservava o espírito angustiante e, por via de conseqüência, carente.

Voltou a se perder pelas ruas, a reencontrar velhos amigos, agora vistos sob outra ótica. Voltou a amar sua família, nem tanto a sua morada (ainda não havia encontrado seu “canto” – fruto do incessante desencaixe). Voltou. E assim foi seguindo, por vezes na repetição do novo, por outras na reinvenção do antigo.

Voltou a buscar e, de muitas maneiras, a encontrar. Até que… Enfim, encontrou o seu refúgio, mergulhou no seu encontro, debulhou-se na realística da sua verdadeira existência.

Finalmente! Havia achado a si mesma! Finalmente, tinha colidido com o seu ser.

Jamais poderia imaginar a intensidade de tanto sentimento que lhe permeava. Nunca sentira tamanha felicidade, exacerbada completude. Era assim o estado de êxtase, afinal. Lágrimas percorriam sua face, deixando a marca da realização. Quanta alegria! Por fim sabia o que era viver, ao invés de simplesmente existir.

Foram muitos os nasceres do sol até se acostumar com a descoberta, até a descoberta deixar de sê-lo.

Como o tempo caminha! Só que, com o seu andar, passado o novo, retornam as perguntas acerca da legitimidade dos seus alcances.

Seria a plenitude dantes encontrada mais uma ilusão momentânea de uma mente inquieta e inconstante, desesperada pela calmaria da alma?

Diante dessas perguntas, antes que o tédio lhe invadisse a alma e a natural repetição do inevitável lhe interrompesse o ânimo, precisava voltar. Voltar a morrer. Morrer para escapar. Escapar para adormecer. Adormecer para renascer.