segunda-feira, 14 de maio de 2007

Os perfumes

Recentemente assisti ao filme “O Perfume”, baseado na obra de Patrick Süskind. Embora a minha atenção à capacidade do protagonista em decifrar odores e às conseqüentes nuances desse ato tenha sido dividida com a série de assassinatos cometidos pelo perfumista, recordo-me que quando da leitura do livro, em 1999, os meus olhos se fixavam tão somente no poder que os odores exercem sobre as pessoas.

Sim, sim, sim, por certo que a nossa memória associa o cheiro de determinadas coisas a outros determinados fatos ocorridos em nossas vidas e, por isto, provoca tantas outras determinadas ações quando do aspirar de, ainda outras, determinadas fragrâncias. No entanto é inconteste que, independentemente daquela velha estória de “quem veio primeiro, o ovo ou a galinha”, os odores têm poder! Eles escravizam, seduzem, rechaçam, inibem, hipnotizam, convergem, divergem...

Absortos pela sua magia, vamos, inertes, – e ainda que inconscientemente - nos deixando conduzir por diversos e incontáveis caminhos, a cada diversa e incontável alteração olfativa.

Se cada ser humano, numa viagem introspectiva, fosse mais cônscio do papel de cada essência nas suas correspondentes reações emocionais, cobrir-se-ia do remédio olfativo em busca da inatingível perfeição – não seria perfeito, porém, ao menos, mais feliz.

Eu me perfumaria com o cheiro do mar quando o meu corpo se sentisse agonizante; me inebriaria com a essência da terra molhada quando a insônia persistisse; me vestiria com os perfumes cítricos para transmitir maturidade e com os aromas infantis quando a seriedade fosse irritantemente excessiva; combinaria o perfume das folhas com o da pureza do ar se a timidez fosse superior à vontade de brincar; usaria o aroma dos caninos (apenas os cheirosos!) para me sentir protegido(a); e reinventaria o cheiro do mundo quando a vida eu quisesse reinventar.




P.S.: Aos que me lêem, quais seriam os seus perfumes?

segunda-feira, 7 de maio de 2007

Os presentes

Às vezes muitas viagens não vêm acompanhadas de malas, mas só de presentes. O último que recebi, apesar de um prévio aviso de dois dias, não deixou de aparecer como uma grata surpresa.

Os presentes surgem e não importa que modifiquem sua rotina e descartem o que jamais poderia deixar de ser prioridade. Afinal, realizam uma nova impressão da simplicidade da vida, colorindo com mais vigor a riqueza costumeiramente escondida nos pequenos detalhes.

Os presentes... Pouca relevância tem que me sejam conferidos em locais nada atrativos. Ao contrário, aparecem justamente como um meio de consolo, entretenimento e distração – sábio e inexplicável dom de transformar o inferno em paraíso.

Os presentes – observem – sempre estão acoplados de imperceptíveis, porém eficientes, botõezinhos, os quais, uma vez acionados, são capazes de provocar incontroláveis gargalhadas, criar um campo de força contra o estresse e um precoce Alzheimer, que atinge tão somente aquela parte insolente e relutante do cotidiano.

E mesmo que a cor de suas crenças não combine com o tecido dos meus propósitos, os presentes sempre são presentes. Compõem-se de mimos, afagos e, sobretudo, de respeito e tolerância.

Ah, os presentes! Quem precisa de manual de instruções, quando a percepção autodidata já instrui o seu manuseio?

Dita percepção, no caso, automaticamente instruiu e automaticamente constatou: os presentes também são mensageiros e donos do tempo. Silenciosos e discretos, anunciam: vento forte e turbulento arrasta nuvens cinzentas do céu, garantido uma semana ensolarada e repleta de vigor.

P.S.: Havia esquecido de mencionar, mas os presentes têm esse poder.

quinta-feira, 3 de maio de 2007

As respostas, as respostas... Estão em mim, mas ainda não as tenho.