sexta-feira, 10 de julho de 2009

Advocacia e a arte da seduçao

Creio que mais de 90% dos formandos em Direito concluem a faculdade com o objetivo de se aventurarem em concurso público. Louvável e admirável, principalmente quando este anseio é verdadeiro, apaixonado, e não apenas fruto da tao sonhada estabilidade. Contudo, vou pedir vênia aos ilústres servidores públicos para enaltecer a minha profissao, a advocacia.

Há algo de magistral nesse exercício que extrapola as barreiras de uma pura e simples compreensao técnica. Advogar é a arte da seduçao. Um fingir-se submisso num imperar com humildade.

Como já dizia Piero Calamandrei, em sua obra intitulada “Eles, os juízes, vistos por um advogado”, “o advogado deve saber sugerir de forma muito discreta ao juiz os argumentos que lhe deêm razao, de tal modo que este fique convencido de os ter encontrado por conta pròpria”. Eis aí a mais brilhante de todas as formas de seduçao: hipnotizar em silêncio o conquistado, de tal modo que ele venha a ter certeza de que é o verdadeiro conquistador.

Advogar é uma arte. É a poesia revelada em situaçoes corriqueiras ou inovadoras, simplórias ou complexas. E o que é a poesia, por seu turno, senao uma dentre tantas das artimanhas da seduçao? Sabe-se que a poesia atinge seu objetivo quando seduz, quando toca a alma do leitor, prendendo suas retinas num emaranhado de letrinhas as quais, compostas, transfiguram-se sejam nas mais belas paisagens, cançoes, sonhos ou até aonde levar a imaginaçao e a sensaçao do leitor.

Assim é que defender uma tese, escrever, é poetisar por meio do poder do convencimento. É estar tao imergido naquilo que se pretende ver acolhido que mesmo sem crer em absoluto no que se exprime, crê-se em absoluto no que se exprime – e salve Fernando Pessoa quando propagou com irrefutável convicçao que “o poeta é um fingidor, finge tao completamente que chega a fingir que é dor. A dor que deveras sente”.

Isto posto, convido aqueles que estudam e pensam o direito a desvendarem as pestanas e descortinarem os sentidos para, na experiência da poesia, examinarem a arte da seduçao, vivenciarem a advocacia.

Salvador, 03 de Maio de 2008.

“Escolhe um trabalho de que gostes e não terá que trabalhar nem um dia da tua vida”. Confúcio

10.06.09: Passado pouco mais de um ano e confesso que já cansei de seduzir...

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Nossa, que dificuldade essa, a de escrever! Já não sei mais escrever. Derramar as palavras, deixá-las livres para, livres, escolherem seu compasso e bailarem em harmonia com a música dos sentimentos.

Acorrentei as palavras e já não sei mais onde escondi as chaves que as libertariam da prisão onde, inconscientemente (talvez nem tanto), obriguei-as a dormir.

Coitadinhas dessas palavras! Como pude ser tão cruel e inocente a ponto de não perceber que essa corrente se tornaria um vício do qual eu não teria forças para destruir!

De que adiantam os sentimentos se deles fogem as palavras, se dele tirei as palavras?! Os sentimentos, meus deuses, embora em estado constante e vigilante de ebulição, não conseguem ser vistos, resumem-se a meras elocubraçoes sem essa tal de palavras. Os sentimentos, sem as palavras, sao como um ser sem alma, ou uma alma sem o físico, que envelhece ou rejuvenesce, engorda ou emagrece, sorri ou chora a depender do que se externa pelas palavras. O sentimento não sobrevive sem as palavras.

Por que, mas por que, fui me impor às palavras?