quinta-feira, 26 de abril de 2007

O encontro dos bruxos

Metade do dia de uma terça-feira, um sol escaldante típico dos trópicos e lá vai ela embrulhada num pacote vestimental do qual a sua profissão, ainda que por vezes fracassadamente, lhe obriga a usufruir. Embora de perninhas curtas, caminhava com os passinhos apressados, ávida para chegar ao seu destino.

Ele, porém, estava simplesmente de passagem, quando resolveu parar para recarregar a alma e receber a visitante que, ao menos neste tempo, acabaria de conhecer.

O reconhecimento foi imediato. Por certo no caso dele, haja vista que para ela, fora uma pequena surpresa por se deparar com um homem naquele local de costumeira presença feminina, tudo transcorria dentro do padrão ordinário de normalidade.

Na sala de espera, enquanto ela tentava “desmontar” um copo plástico e transformá-lo talvez num pratinho ou jogo americano cuja estrutura intercalada era típica para materiais feitos de palha, ele dissecava um resumo sobre sua vida e os caminhos percorridos ao longo dos anos para chegar onde, naquele momento, estavam os dois.

Ela desconfiava se alguns espasmos e recuos eram frutos da sua presença a qual, por ventura, talvez estivesse incomodando o rapaz. Mas a verdade era que a garganta do homenzinho era sufocada pela emoção contida de reconhecer sua mais nova velha amiga.

A cada pequena revelação, a cada pequena troca de informação, mais e mais coincidências iam surgindo.E o acaso, por um desacreditado acaso, fez com que o acaso de um convergisse para o acaso do outro. Afinal, é assim que os amigos se reconhecem: por um mero acaso que, na realidade, nunca existiu.

quarta-feira, 18 de abril de 2007

A mala

Certa feita aterrou sobre as minhas costas uma mala. E uma de – APENAS – aparente fragilidade como aquela não aterra, quiçá pousa. Simplesmente despenca.

As malas, quando decidem ser tais, clamam contra suas compatriotas burguesas e se eximem de qualquer luxo que a praticidade das rodinhas podem lhe proporcionar. Olvidam-se do fato de que essa necessidade exacerbada de ser “do contra” por vezes –prejudica meros terceiros espectadores que, obrigados a se submeterem aos caprichos de uma malinha revoltosa, carregam o peso do que poderia ser tão somente arrastado.

Certa feita dita mala, como dito, despencou. Embora seus contornos tenham me induzido ao erro de pensar que aquela pequenez dispensava calçados rotatórios e revelava uma extrema magreza, a verdade é que por trás da desagradável delicadeza, pilhas e pilhas de concreto pesavam sob o seu interior.

A mala, não satisfeita em ser só uma, trouxe consigo todos os apetrechos que seu formato sequer podia suportar – dentre eles, um nécessaire ainda mais extenso que a própria mala, apesar de apresentar uma certa maleabilidade que lhe tornava passível de ser contida na esguia e irritante malinha.

Meus músculos, porém, gradativamente desfaleciam com o leve ancorar da mala. E toda aquela rigidez e fortaleza que vidas e mais vidas de musculação me haviam proporcionado, eram um tanto quanto inúteis frente os objetos cortantes e pontiagudos, os quais a mala, estrategicamente, açambarcava.

Eis que, já estando eu padecendo, sangrando e me esvaindo de aflição, caí na real. Ao menos tal mala conseguiu incutir na porção não mais relutante de massa encefálica que me restava, uma lição: por mais que tentamos superar os pesos que podemos suportar, há malas que nos desafiam com espaços que, mesmo não lhes sendo possível, elas ousam preencher. Para malas como essas, a única solução continua sendo o despacho.

domingo, 15 de abril de 2007


Uma viola do lado, os amigos no abraço e a vida já não mais precisa de respostas...

O começo

Um começo é sempre difícil, ainda que sendo o começo de um meio infindável. Um começo é tanto mais difícil quando se duvida da real vontade de iniciá-lo. Um começo é ainda mais difícil quando se está certo de que será a causa para uma provável e indesejável exposição.
Mas um começo é um quanto menos complicado quando a garganta clama a necessidade de expressão. Um começo se revela mais fácil também pela constante renovação – sendo o fim que se inicia, reinicia na reinvenção.
No começo eis o Sol ou eis a Lua, a cada dia com novos segredos, experiências, cumprimentos e despedidas. E isto... Isto é apenas O começo!