quarta-feira, 18 de abril de 2007

A mala

Certa feita aterrou sobre as minhas costas uma mala. E uma de – APENAS – aparente fragilidade como aquela não aterra, quiçá pousa. Simplesmente despenca.

As malas, quando decidem ser tais, clamam contra suas compatriotas burguesas e se eximem de qualquer luxo que a praticidade das rodinhas podem lhe proporcionar. Olvidam-se do fato de que essa necessidade exacerbada de ser “do contra” por vezes –prejudica meros terceiros espectadores que, obrigados a se submeterem aos caprichos de uma malinha revoltosa, carregam o peso do que poderia ser tão somente arrastado.

Certa feita dita mala, como dito, despencou. Embora seus contornos tenham me induzido ao erro de pensar que aquela pequenez dispensava calçados rotatórios e revelava uma extrema magreza, a verdade é que por trás da desagradável delicadeza, pilhas e pilhas de concreto pesavam sob o seu interior.

A mala, não satisfeita em ser só uma, trouxe consigo todos os apetrechos que seu formato sequer podia suportar – dentre eles, um nécessaire ainda mais extenso que a própria mala, apesar de apresentar uma certa maleabilidade que lhe tornava passível de ser contida na esguia e irritante malinha.

Meus músculos, porém, gradativamente desfaleciam com o leve ancorar da mala. E toda aquela rigidez e fortaleza que vidas e mais vidas de musculação me haviam proporcionado, eram um tanto quanto inúteis frente os objetos cortantes e pontiagudos, os quais a mala, estrategicamente, açambarcava.

Eis que, já estando eu padecendo, sangrando e me esvaindo de aflição, caí na real. Ao menos tal mala conseguiu incutir na porção não mais relutante de massa encefálica que me restava, uma lição: por mais que tentamos superar os pesos que podemos suportar, há malas que nos desafiam com espaços que, mesmo não lhes sendo possível, elas ousam preencher. Para malas como essas, a única solução continua sendo o despacho.

Um comentário:

Unknown disse...

Olá J.7,

E se essa ou qualquer outra mala decidir voltar do despacho, espero que retorne com rodinhas, ou que você as coloque - mesmo que com esparadrapos...

Besos