quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Ausência de espelho

Há algumas semanas atrás, num desses encontros familiares, ao falar sobre relacionamentos, surpreendeu-me o comentário que uma tia minha fez sobre o fato de eu ser autoritária. 

Embora eu sempre intente - na maioria das vezes sem sucesso - me desmembrar dessa característica que a vida toda me perseguiu, eu sou, realmente, muito autoritária. Logo, nao foi essa a verdade que me causou espanto, mas sim ouví-la da  pessoa que - à parte de todas as suas infindáveis qualidades - é o ser humano mais autoritário que eu já conheci. Daqueles que faria frente à Hitler simplesmente se ele comentasse que o mel dos cabelos dela é voltado mais para um castanho do que para loiro.

Esse acontecimento recobrou a minha memória, relembrando das inúmeras vezes que me peguei criticando características e comportamentos alheios, os quais estavam incontestavelmente intrínsecos ao meu ser - vem aquela velha história de nao olharmos para o próprio umbigo...

E como uma bola de neve, essa lembrança rememorou outra de que nós, humanos, costumamos ser excessivamente arrogantes, principalmente quando reverberamos a impiedade dos nossos julgamentos. 

E como a bola continua a aumentar, isso só fez transparecer a minha pequenez frente às vastas e infindáveis liçoes que ainda tenho por tirar desse mundo tao contraditório e interessantemente irregular.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

O céu, também nos pintando de lilás. Embora profetizando a alegria e eternizando a amizade, sente-se pequeno tamanha a intensidade do amor que se revela no deflorar da natureza. A vida, nos seus detalhes, é simplesmente perfeita!
Jardim Botânico - Rio de Janeiro - 06/06/2006. E por que hoje?! Nao sei.




quarta-feira, 15 de setembro de 2010


Essas mãos que calam, mas anseiam por falar, estão aptas a descortinar o mundo, desbravar a vida e novas formar criar. Transcendem às suas funções, embarcam em mares bravios. Morrem e nascem todos os dias ou simplesmente aparecem. Mãos que ocultam mistérios mil, dos quais muitos elas mesmas desconhecem. Mãos inquietas e inconstantes, serenas e calmantes, batem à porta. E o que virá?

domingo, 12 de setembro de 2010

Resgate

O final de semana passado foi de reencontros. Nao daqueles amigos distantes cuja visita frequente nos é impossibilitada pela geografia. Mas daquela família que sempre esteve próxima, porém sempre a menos presente. Digo, para a qual nao muito NOS fizemos presentes.
Curioso a vida. Nao que hoje em dia eu tenha grandes contatos com a minha família materna e com a paterna, contudo a proximidade sempre foi menor com o lado que estava mais próximo, embora fosse com este lado mais próximo que eu sempre me identifiquei mais.
E, apesar dessa distância toda, o reencontro mostrou a preservaçao da intimidade e o resgate da saudade de algo que sequer se viveu outrora. E salve a espontaneidade!
Já nesse final de semana, o reencontro foi no chá-bar de um casal de amigos com os quais a mudança de cidade me proporcionou o prazer de um constante desfrute da sua companhia e da sua família que, também, é a minha família - ao menos por adoçao. Vê-los ali, curtindo a prévia da realizaçao de um sonho, numa festa maravilhosa, organizada por seu grupo de amigos, fez em mim a felicidade deles.
É muito bom ter família, é muito bom ter amigos.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Agradecimento

Interessante como sempre estamos desejando algo da vida, e acabamos por esquecer o tanto de realizaçoes que ela já nos ofereceu.
Quando mais nova, sempre quis ter meu canto, morar acompanhada de mim mesma. Aqui estou: numa casinha hiper aconchegante, curtindo a alegria de viver comigo mesma.
Sempre gostei de gente, mas daquela gente bem-humorada, verdadeira e que lhe poe pra frente ao invés de se (e nos) banhar com pessimismos. Disso, nunca pude reclamar. É claro que vez ou outra, por um deslize de caridade meu, um desavisado ingressa no meu peito, embora nao demore a perceber a estranheza do ninho. De todo modo, a vida sempre termina me cercando com as melhores espécies de humanos (talvez a única autêntica que merecesse o nome que leva).
Há mais de seis anos atrás, desde a morte do meu anjinho de quatro patas, me foi negado o direito do constante afago canino.Hoje, cá estou eu com os dois labradores mais interessantes que eu poderia conhecer e os quais impoem ao meu dia-a-dia exageradas doses de serotonina.
Como se o mundo e a geografia possuissem a "praticidade" dos meus pensamentos, pedia por uma casa no meio do mato e de frente para o mar. Nao foi bem assim que aconteceu, mas a casa real fica a 800 metros das águas e, vez ou outra, posso alcançar o seu cheiro ou ouvir o doce tilintar da maresia.
O mato nao se fez presente, mas as plantas, flores e ervas emergem no meu espaço. O conqueiro e a mangueira cantam renitentes com o velejar do vento, conseguindo dar leveza até à mais rígida das criaturas, a Sra. Dona Insônia.
Seja num dos raros momentos em que a TV deixa de ser um quadro da casa para cumprir o seu papel de aprisionar estaticamente os movimentos, seja deitada na rede com o computador no colo... chego sempre àquela hora em que nao sei mais distinguir o canto dos pássaros que me circundam, com aqueles que escuto como pano de fundo dos cenários constantes dos filmes ingleses de época.
Sempre desejei uma família harmoniosa, livre dos deboches daquele lado amargurado do ser. Bem, eu tenho meus pais, meu irmao, minha cunhada, alguns tios e poucos primos na Arca. E apesar dos meus pais por vezes se revelarem inconvenientes, intrometidos e injustos, eles sao brilhantes, inteligentes, engraçados, honestos, cultos e companheiros. Até mesmo seus desacertos refletem a bondade das intençoes. Nao por outro motivo, poderia estar tao segura em afirmar que foi com eles que travei o primeiro entendimento sobre o tao ramificado amor.
Por essas e tantas outras plenitudides que a vida me deu e continua a me dar, é que questiono a minha ansiedade por aquilo que ainda estou por alcançar ou por sempre querer. Querer ganhar. Há uma linha muito tênue entre a frustraçao dos desejos ainda nao atendidos e a gratidao pelo momento conquistado. Sou grata, sempre serei grata. E sempre desejosa. Afinal, é ou nao é o desejar mais que mantém o movimeto da vida?