segunda-feira, 1 de junho de 2009


As palavras continuam acorrentadas, agora pela fúria da TPM. Enquanto isso, um texto antigo, uma despedida, uma "boas vindas" para novas experiências degustativas...


A Obscenidade dos Alimentos

Dia 30/07/2006, num belo final de tarde de domingo, fui desfrutar com alguns amigos da consistência prazerosa ao paladar de duas magníficas bolinhas de sorvete.

Foi quando, entre lambuzadas no caminhar desconcertante dessa erótica degustação, um dos amigos comentou acerca da obscenidade no ato de comer. Acrescentou dizendo que se sentia encabulado de tomar um suco na frente dos outros, assim como encabulado estava naquele exato momento em que o sorvete era devorado com aparente parcimônia.

Segundo um dos dicionários da nossa língua portuguesa, obsceno é tudo aquilo que fere o pudor, que vai de encontro à moral. Penso que, no caso do ato de comer, a obscenidade se revela como uma mera conseqüência do erotismo intrínseco em cada alimento.

Sim, sim, há erotismo e sensualidade em demasia na comida e no processo de sua pré-ingestão. Imaginar-se em câmera lenta, mordiscando um suculento pêssego, sentindo o seu saboroso líquido escapar-lhe à boca e percorrer suavemente parte da face, pescoço, colo ou ombro, requer uma excessiva capacidade de auto-controle. Controle contra a chama suntuosa do fogo que desafia o nosso consciente na tentativa de disparar suas rajadas ao público e toda a platéia que nos circunda quando da degustação de tão inocente fruta.

Assim é que a apreciação de uma comida requer saliva, olhos fechados, meditação, paladar apurado, olfato a postos, mãos guerreira, aventureiras, conquistadoras e descobridoras. Ouvido à espreita, ansiedade comedida, respeito, culto, sincretismo e paixão. Mas, acima de tudo, muito tesão.

Salvador, 31 de Agosto de 2006.

Um comentário:

Mirellinha disse...

Uauuuuuuuuuuuuu

Gostaria de saber se é você na foto....

beijoquinhas mil...