segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Lá ia ela... dançante! A caminhar pelas águas cristalinas do forte. Sua cintura acompanhava o balanço da brisa, que deslocava o seu ventre compassadamente. Transeuntes se deliciavam enquanto a pequena “sereia terrestre” contemplava a vida e ia se reconstruindo de maresia.
Deitada, olhos cerrados, podia sentir o vento a sussurrar em seus ouvidos, embalar-lhe o corpo penetrado, em sua inteireza, pelas salinas e areias flutuantes.
A natureza tampouco se olvidou em reverenciá-la e lhe ofertou com o canto dos pássaros, o murmúrio dos ventos, o ricochetear das ondas, o tagarelar das crianças, os suspiros do ballet dos coqueirais e o gostoso sonzinho dos trôpegos passos caninos pela água.
Esse serzinho - dos mais femininos - podia sentir o seu encanto hipnotizando a vida e despertando paixões. Sem que precisasse pedir licença, era saudada pelo mar e protegida pelos deuses que do mar se encarregavam.
Submergia-se novamente naquelas águas que, embora salgadas, lhe ninavam com doçura, acarinhavam seus cabelos e massageavam com sutis ondinhas o seu corpo e todo o seu contorno.
E foi assim, que embevecida por tanto querer, como uma encantadora sereia terrena que era, lançou o seu último mergulho, levantou-se regozijante e, com a feminilidade sedutora que lhe era peculiar, levitou, de pé, sobre as águas e caminhou cantarolando e ninando o oceano... os peixes... as conchas e tudo o mais que, inebriado, aproximava-se.
Porém seus passos gentis foram, pouco a pouco, se atrapalhando. Suas pernas, cujos movimentos invejavam a Vênus de Milo, agora se locomoviam como se posicionadas sobre um cavalo. Não estava nem perto da meia noite, mas o conto de fadas já se esvaia com o surgir das macaquices involuntárias.
E aqueles passos que outrora despertavam, com o inigualável encanto, o mundo, colocava-o, agora, enojado, assustado e questionando: como algo tão magnanimamente belo, dilacerante em sua delicadeza e trepidante de sedução, de repente poderia disputar a sua esquisitice com aquele desconfortante andar masculino que, para não “espremer” as “circunferências” que carregam, são obrigados a manter as pernas brutalmente afastadas? Bem, a resposta a tal pergunta remonta ao nascimento da dantes sereia: ela era neném, não tinha talco. Sua mamãe passou açúcar, mas esqueceu do hipoglós.

5 comentários:

FêCris disse...

O subliminar desse texto me fez lembrar da princesa que queria conhecer o mundo, além dos muros do castelo e pra isso ela se vestiu de entregador de leite...

Lindo o q vc escreveu pra mim, digo que a recíproca é verdadeiríssima, adoro vc, minha irmã gêmea de alma.

Mirellinha disse...

Olha que coisa mais linda...
mais cheia de graça...
é ela a menina que vem e passa
no doce balanço...

beijocas mil

Mirellinha disse...

Saudades...
Cadê??

Beijocas mil!

Gisele Borges Fortes disse...

cada dia mais lindos os teus posts!
muito legal o estilo da tua narrativa:)
Beijo

evolucao disse...

É interessante como cada numero tem a sua filosofia, contém uma idéia-força.
Esse site do Laercio é muito bom mesmo.
Parabens pelo blog, bem legal.

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