quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Vergonha de ser honesto

Impressionante como os valores mudam freneticamente numa sociedade, a ponto de se ter vergonha da sua própria honestidade.

Semanas atrás um vizinho veio bater à minha porta e, timidamente, informar que sabia que eu assinava o velox. Continuou dizendo que um outro vizinho - que também tinha velox - iria se mudar, o que deixaria o restante dos moradores "órfãos de internet". Explico: todos eles "compartilhavam" a internet daquele que estava de mudança, seguindo aquele "sistema" tão comum nas classes mais miseráveis denominado popularmente de "gato".

Com a mudança desse morador, o que meu vizinho intencionava era que eu disponibilizasse a minha internet para os demais moradores que, em contrapartida, me pagariam uma determinada quantia mensal pelo uso do mesmo.

Embora meu sentimento fosse de indignação com a famigerada proposta, envergonhei-me pela negativa da minha resposta e me imbuí das mais inconvincentes desculpas para sustentar o meu nem tão sonoro "não".

O básico, o mínimo de valor, é tão incomum hoje em dia que, para não nos indispormos com toda a humanidade ao nosso redor, temos que esconder a honestidade e mascará-la em nome de uma boa convivência social. Como já dizia Rui Barbosa, "de tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos mais, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da desonra, a ter vergonha de ser honesto".

Um comentário:

Marcio Pimenta disse...

Lá no Chile aconteceu o mesmo comigo. Um vizinho me pediu a senha do Wifi em troca de um percentual do valor da minha assinatura.

Neguei e nos 3 meses que eu ainda fiquei no apartamento ele se negava a me dar bom dia.

Beijos e adorei a citação de Rui Barbosa!

P.S.: Todo novembro estarei em terras baianas!!!! Será que aquele acarajé sai? hahahahah