quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Agradecimento

Interessante como sempre estamos desejando algo da vida, e acabamos por esquecer o tanto de realizaçoes que ela já nos ofereceu.
Quando mais nova, sempre quis ter meu canto, morar acompanhada de mim mesma. Aqui estou: numa casinha hiper aconchegante, curtindo a alegria de viver comigo mesma.
Sempre gostei de gente, mas daquela gente bem-humorada, verdadeira e que lhe poe pra frente ao invés de se (e nos) banhar com pessimismos. Disso, nunca pude reclamar. É claro que vez ou outra, por um deslize de caridade meu, um desavisado ingressa no meu peito, embora nao demore a perceber a estranheza do ninho. De todo modo, a vida sempre termina me cercando com as melhores espécies de humanos (talvez a única autêntica que merecesse o nome que leva).
Há mais de seis anos atrás, desde a morte do meu anjinho de quatro patas, me foi negado o direito do constante afago canino.Hoje, cá estou eu com os dois labradores mais interessantes que eu poderia conhecer e os quais impoem ao meu dia-a-dia exageradas doses de serotonina.
Como se o mundo e a geografia possuissem a "praticidade" dos meus pensamentos, pedia por uma casa no meio do mato e de frente para o mar. Nao foi bem assim que aconteceu, mas a casa real fica a 800 metros das águas e, vez ou outra, posso alcançar o seu cheiro ou ouvir o doce tilintar da maresia.
O mato nao se fez presente, mas as plantas, flores e ervas emergem no meu espaço. O conqueiro e a mangueira cantam renitentes com o velejar do vento, conseguindo dar leveza até à mais rígida das criaturas, a Sra. Dona Insônia.
Seja num dos raros momentos em que a TV deixa de ser um quadro da casa para cumprir o seu papel de aprisionar estaticamente os movimentos, seja deitada na rede com o computador no colo... chego sempre àquela hora em que nao sei mais distinguir o canto dos pássaros que me circundam, com aqueles que escuto como pano de fundo dos cenários constantes dos filmes ingleses de época.
Sempre desejei uma família harmoniosa, livre dos deboches daquele lado amargurado do ser. Bem, eu tenho meus pais, meu irmao, minha cunhada, alguns tios e poucos primos na Arca. E apesar dos meus pais por vezes se revelarem inconvenientes, intrometidos e injustos, eles sao brilhantes, inteligentes, engraçados, honestos, cultos e companheiros. Até mesmo seus desacertos refletem a bondade das intençoes. Nao por outro motivo, poderia estar tao segura em afirmar que foi com eles que travei o primeiro entendimento sobre o tao ramificado amor.
Por essas e tantas outras plenitudides que a vida me deu e continua a me dar, é que questiono a minha ansiedade por aquilo que ainda estou por alcançar ou por sempre querer. Querer ganhar. Há uma linha muito tênue entre a frustraçao dos desejos ainda nao atendidos e a gratidao pelo momento conquistado. Sou grata, sempre serei grata. E sempre desejosa. Afinal, é ou nao é o desejar mais que mantém o movimeto da vida?

4 comentários:

Anônimo disse...

Sinto falta de uma rede. Quando morava na minha antiga casa, dormia do lado de fora, na rede, com a vista para o mar, embaixo das estrelas. Andei e peregrinei por muitos mares, muitas pradarias e muitas idéias, e ideais, e sou muito grato. Ainda assim, a jornada é longa. Se é preciso cruzá-la, que sejamos infalíveis e impávidos, encontrando a Fortuna e a Glória merecidas a todos os homens, e mulheres, de boa vontade.

Passolargo

Anônimo disse...

Esqueci de mencionar que é muito bom encontrar alguém tão ligada aos seus! Foi muito bonito o que escreveu.

Passolargo

Márcio Pimenta disse...

Se você está olhando para o retrovisor, isso pode significar que você está hesitante sobre algum passo a ser dado. Natural. E se estou certo, a tua história, como você conta aqui, lhe permite que dê este passo. Então vai em frente. Você tem o melhor: amigos e família. Cachorros também. E, principalmente: você mesma.

Coloca aquele teu sorriso no rosto e vai em frente.

Beijos!!!

Anônimo disse...

Vou passar um mês fora. Mas não pare de escrever. Quero ter histórias quando eu voltar.

Passolargo