quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Era uma segunda-feira de um desgosto qualquer. A sua vida estava enferma e ela acompanhava o ritmo desacelerado da impaciência. Tinha aula de dança. Quem sabe isso nao seria um permissivo para a melancolia encontrar a porta de saída?!
Rastejou os pés, que sentiam cada vez mais o peso do corpo renitente. Ainda assim, foi a única aluna que se fez presente. Assim... meio que imóvel, invisível. Mas presente.
Deu-se início à batida. Todo o repertório muscial remetia às águas... a seu poder. Iemanjá, mar, rios riachos, feto, peixe. Os deuses clamavam pela fúria irreverente das águas, seguida de uma calmaria levitante.
As cançoes banhavam o seu corpo, que se encontrava submerso nas letras as quais  inconscientemente, incorporou. De repente se viu debaixo d'àgua, como na letra de Arnaldo Antunes, cuja música fora emprestada à voz de Maria Bethânia. "Debaixo d'água tudo era mais bonito, mais azul, mais colorido". E ela nao só respirava, como suas narinas se viram livremente desobstruídas de uma maneira que antes jamais ousou imaginar possível.
O ritmo surgia com o impacto das águas. O que era água, o que era ritmo, ela nao mais sabia dizer. Só podia sentir o impacto purificante da cura.
Ahhhhh, quando eu morrer (se um dia eu morrer) que seja nas águas... Dançando!

2 comentários:

Anônimo disse...

Suas palavras são como o vento da primavera após um longo inverno. O amanhecer que traz os pescadores de volta para a praia. Aproveite este dom. Nunca, nunca pare de dançar....

Passolargo

Márcio Pimenta disse...

Oi Ju!

Levantar é ter novas perspectivas. Novas impressões e desejos. Qualquer coisa pode acontecer, como desejar morrer nas águas, dançando. Poetizando. Perspectivas não se projetam, acontecem.

Beijos!!!