quinta-feira, 15 de julho de 2010

Once upon a time, a not so long time ago

Contam as línguas que há alguns anos um dos mais belos dos mamíferos da sua espécie atracou nas areias da praia de Itapoa.
Seus contornos avantajados e brilhantes, de súbito chamaram a atençao e de repente toda a multidao se aglomerava ao redor dessa espécime tao grande, imponente, robusta e... frágil.
Os biólogos, ambientalistas e afins também se amontoaram ao redor da baleia, tentando desesperadamente lhe devolver às águas. No entanto, esses ativistas nao contavam com aquela sensaçao infeliz e involuntária, que assassina e esquarteja a poética da natureza e suas dádivas: a Fome. Sim, ela!!! Surgiu voraz, sedenta e salivante nos olhos da Miséria!
A batalha foi travada "entre o feliz poeta e o esfomeado", entre os biólogos e a populaçao carente, para quem pouco importava a Sereia que se escondia por trás daquela carne volumosamente hipnótica.
Os sonhos foram desfeitos para os biólogos, a carnificina fez o Éden para o restante e Gilberto Gil escrevou e cantarolou A Novidade.
"A novidade veio dar à praia, na qualidade rara de sereia. Metade o busto d'uma deusa Maia, metade um grande rabo de baleia... A novidade era o máximo do paradoxo estendido na areia. Alguns a desejar seus beijos de deusa, outros a desejar seu rabo prá ceia.
Oh! Mundo tão desigual, tudo é tão desigual.
Oh! De um lado esse carnaval, de outro a fome total.
E a novidade que seria um sonho, o milagre risonho da sereia, virava um pesadelo tão medonho ali naquela praia, ali na areia...
A novidade era a guerra entre o feliz poeta e o esfomeado. Estraçalhando uma sereia bonita, despedaçando o sonho prá cada lado...."

À parte do "floreamento" que atribuí à narrativa, a verdade é que nao me certifiquei se a história aqui apresentada se trata de um fato ou de mera ficçao, mas é imperativo que essa música se mostra nos dias de hoje nao como lembrança de um passado, mas lamentavelmente como a mais perfeita demonstraçao da dualidade desconcertante que vigora no nosso globo geográfico.
Com vocês, meu querido conterrâneo.

5 comentários:

Márcio Pimenta disse...

Ótimo! Muito bom mesmo. Gil foi extremamente feliz nesta música, tanto pela musicalidade como pela letra.

Nesta terra de contrastes, fico imaginando como seriam as manchetes dos jornais: "Biólogo diz que a ciência sofreu um duro golpe", ou "O MSCB, Movimento dos Sem Carne de Baleia, fará uma caminhada até Brasília", ou ainda, esta seria a capa da Veja: "Depois do MST, vândalos do MSCB atacam armazéns do governo. E Lula não faz nada". rsrsrsrs

Enfim, tudo são perspectivas. Entendimento e compreensão ficam apenas para os poetas.

Beijos!!

Márcio Pimenta disse...

Tive um insight agora enquanto cantarolava a música rsrsrrs

Acho que por isso fica tão difícil discutir política com os amigos. Enquanto vou na perspectiva do biólogo, não noto que há ali "esfomeados" pelas oportunidades que vislumbram.

Talvez eu esteja apenas delirando... rsrsrs

Beijos!!!

J.7 disse...

Hahaha, bota inspirado. Mas se vc estiver delirando, estamos delirando juntos, rssss.
Beijos

Mirellinha disse...

Belíssimo Juja...
bjos

Anônimo disse...

É bom encontrar algo bom pra ler numa lugar tão monótono como a rede de computadores. Espero que não se incomode.

Passolargo